Esperar
- Karoline Pereira
- 19 de abr. de 2022
- 4 min de leitura
Eu sei que o gestar é muito particular para cada pessoa. E eu só posso falar da minha e de mais nenhuma outra gestação. Eu não me considero uma gestante que romantiza a gestação nem a vinda de uma bebê. Acho que estou bastante consciente do que escolhi viver e do que posso esperar, com bastante consciência de que pode ser completamente diferente do que pensei ser - o que acho ser a coisa mais louca que posso sentir ou pensar, mas é isso que penso e sinto: acho que sei o que posso esperar, mas não tenho a menor ideia do que esperar…

Nessa espera, nessa expectativa, nessa brincadeira de imaginar como vai ser, aprendi uma coisa muito interessante. Esperar. Tem sido o que eu mais faço. Esperar. Espero o próximo ultrassom para poder vê-la, espero o dia em que vou sentir os movimentos dela, espero que nada aconteça ao longo da gestação, espero que ela esteja bem, quando eu não a sinto mexendo, espero, espero, espero. Espero em vários aspectos do verbo esperar. Espero como quem aguarda algo, espero como alguém que deseja, espero como alguém que tem fé e confia, enfim, espero enquanto gesto…
Esperar me ensinou a me aquietar. Esperar, me ensinou que o tempo não me pertence e não tenho controle de nada. Esperar me ensinou que não posso apressar nem querer adiantar nada. Esperar é esperar as coisas acontecerem no tempo em que precisam acontecer. Esperar me ensinou humildade. Esperar também me lembrou que posso descansar e também posso não fazer nada. Quanta coisa se pode aprender ao esperar? Sei que esperar o dia em que a Olívia estará em nossos braços tem me ensinado muito sobre o crescer. Não dela, mas o meu crescer.
A gestação pode se referir ao bebê, mas tem me dado tempo para crescer também. As preocupações são tantas e ao mesmo tempo, parecem insignificantes. Não sei se é a melhor palavra, talvez sejam voláteis demais. Como se num momento fossem tão alarmantes e no outro, bobas…
Essa sensação da volatilidade, das mudanças fugazes, da constante lembrança da impermanência da vida é a uma lição diária! É como se tudo fosse um sopro… Eu vi essa menina tão minúscula, apenas um coraçãozinho. Em semanas, ela tinha um corpinho, corpo que cresce de forma tão rápida que chega a ser extraordinário. E poder testemunhar esse crescer é, para mim, uma experiência arrebatadora. Parece que me coloca diante da vida, da fragilidade e da potência que é a vida. A minha pequena Olívia, ainda aqui dentro, já mudou tanto aqui fora!
Pode parecer bonito, ao colocar dessa forma. Mas, o processo é desafiador, requer uma boa dose de paciência e me atrevo a dizer, bastante amor. Amor por mim e por quem está do meu lado. Pelo menos, é o que estou vivendo. Essa velocidade de mudanças não nos dá tempo para absorver. Posso falar de espera, mas não falo de tempo sobrando. Falo de esperar e sentir mundo correr numa velocidade impetuosa, de olhar sua vida mudar completamente em tão pouco tempo e você precisar de alguma referência quando tudo parece se desfazer diante dos seus olhos.
E se desfaz. E aí a ambivalência bate a sua porta! Ou na minha… Um amor que nasce tão rápido e uma vida que era familiar começa a se desfazer diariamente. Como processar isso? Isso que acontece absolutamente, todos os dias! O corpo que era só seu, passa a ser de outra pessoa também. Um corpo que você sabia manejar, começa a ficar mais lento, às vezes, dolorido e maior (você só percebe quando começa abrir a porta da geladeira e ela bate na sua barriga, ou quando você quer se esgueirar para passar num lugar meio estreito e sua barriga não passa mais - sensação muito louca de não mais saber como se movimentar)… E eu nem estou falando da estética (que, pelo menos na maior parte do tempo, estou ilesa) que vez ou outra bate na porta para te lembrar o quanto é mais difícil se sentir bonita naquelas calças largas que você comprou e achou maravilhosamente confortáveis, mas descobriu que não são elegantes o suficiente para se sentir bonita ao ir num teatro. Tudo isso, revira a vida. E num dia é o fim do mundo, no outro saio de casa me sentindo tão plena e completa que sequer me lembro de coisas como aparência.
Eu tenho experimentado muita coisa nova. Uma nova pessoa nasce aqui, e não falo da Olívia. Falo de mim. Há muitas coisas emergindo. Força é uma delas. Nunca me senti tão forte, tão presente, tão pronta para briga (eu sempre evitei conflitos). É estranho reconhecer isso como meu, porque nunca havia aparecido assim. E é mais estranho ainda, não me reconhecer mais. Mais uma vez, um sentimento paradoxal. Eu me conheço, mas quem é mesmo essa mulher que olho diante o espelho? Eu sigo, esperando e esperando. Sigo sentindo o mundo correr ao meu redor. Sigo me olhando no espelho, todo santo dia, para apreender essa nova forma que tenho e para, quem sabe, tentar conhecer um pouco mais essa pessoa que venho me tornando. Dessa forma, tenho gestado a Olívia, a Karol mãe e mulher e a família que escolhi construir.



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