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Parar a Terapia

  • Foto do escritor: Karoline Pereira
    Karoline Pereira
  • 9 de jun.
  • 6 min de leitura

parar a terapia

Recentemente eu pensei em parar a minha terapia. Já estou com minha querida terapeuta há 7 anos, e ao longo desses 7 anos, não faltei nenhuma sessão, só fiquei sem terapia nos períodos de descanso dela. E eu ficava ansiosa pelo seu retorno, porque eu queria meu espaço, minha hora da semana comigo mesma, com alguém disponível para ouvir qualquer coisa que eu quisesse falar. Entretanto, nas duas últimas semanas, pensei em interromper meu processo.


Interromper.

Palavra adequada ao que eu desejava. Não era parar a terapia. Era interromper meu processo. Qual a diferença para mim? Eu entendo que parar é uma decisão que envolve uma consciência sobre o espaço terapêutico, como talvez não faça mais sentido, ou que está na hora de experimentar seguir sozinho ou com outro profissional, mudanças de cidade ou rotina. Interromper, no meu caso, não era esse tipo de decisão. Não dizia respeito ao espaço terapêutico.


Tudo isso, somou-se ao fato de imprevistos financeiros, justificativa mais do que plausível para eu interromper nossas sessões. Dinheiro... Quase ninguém questiona quando falamos: não tenho dinheiro para isso agora. E eu estava, usando dessa situação para dar justificativa a minha dificuldade em sustentar meu próprio processo. Porque, no fundo, eu não quero parar minha terapia, mas eu desejava interromper. Porque eu não estava conseguindo mais sustentar esse processo de olhar para minha própria vida e precisar dar conta das minhas escolhas e das consequências delas.

Eu só queria fugir. Fugir de mim mesma, da minha vida e das minhas responsabilidades comigo mesma.

Foi bastante confuso para mim, a sensação de não querer fazer minhas sessões. Eu nunca senti isso em relação a minha terapia, sempre desejei esse momento, ansiava por ele. Eu comecei a criar situações na minha cabeça para sustentar a minha ideia de interromper. Comecei a tecer situações aleatórias para tentar dar argumentos plausíveis para minha decisão descabida de não mais seguir com as sessões. Passei a sentir uma ansiedade ruim ao me aproximar do dia da sessão e comecei a ter comportamentos de fuga até dar a hora de sentar diante a tela e me encontrar com minha terapeuta.


No fundo, eu sabia a verdade. Eu sabia que eu não queria não fazer mais terapia, mas eu queria alguém para me consolar, me confortar, me escutar sem trazer a minha realidade a tona. Eu queria uma coisa que eu sabia que a terapia não me daria. E não estou dizendo que a terapia não é, também, lugar de conforto e de carinho, porque é. Só não é não do jeito que eu queria. Eu queria colo, como uma criança que está triste precisa. Queria um abraço que me dissesse que tudo vai ficar bem e que logo vai passar. Igual uma criança. Eu, não sou uma criança, e minha terapeuta sabe muito bem disso.


Eu sempre me senti muito cuidada e amparada pela minha terapeuta, sinto uma relação de confiança e de amor. Ela me viu nos meus piores momentos, sempre ao meu lado, sempre pronta para cuidar das minhas feridas. E o que eu sou mais grata é que ela nunca deixou de me falar o que eu precisava ouvir. Tive momentos em que eu jurava que ela iria só me acolher e até mesmo me confortar, mas o que ela na verdade fez, foi me falar coisas que me colocaram no meu lugar. As vezes, brinco com ela dizendo: semana passada você me deu tanto na cara que eu sai da sessão tão inteira e muito melhor do que eu imaginava.


Então, hoje, enquanto escrevo esse texto, percebo que eu estava querendo fugir de mim. Era um desejo de cessar esse encontro comigo, com as minhas escolhas, com as minhas responsabilidades e com o vazio e a solidão que passei a sentir.

Percebi que o vazio foi ganhando tanto espaço dentro de mim a ponto de eu sentir que não havia absolutamente nada a ser dito em sessão. E eu sou aquelas que sempre tem algo para falar. De repente, nada. Somente angústia e uma solidão crescente. Uma tela em branco, uma rotina cinzenta, uma contagem das horas no relógio para o tempo em que eu não precisaria atender a nenhuma demanda. A noite, quando o mundo tende a se calar um pouco. Eu queria o silêncio, a escuridão das noites que me engoliam dentro de mim mesma.


Ingenuamente, eu achava que isso me traria alívio e alguma tranquilidade. Ao contrário, dei de cara com o vazio e a solidão que venho carregando comigo por toda minha vida.

Percebi que não havia mais nada que eu fizesse para me distrair dessa parte que é tão minha. Quando minha filha dormia a noite, a casa estava arrumada, pronta para o próximo dia, quando não restava nada mais a fazer, era com essas partes minhas que eu me encontrava. Era isso que eu queria, quando pensei em interromper meu processo terapêutico. Eu queria cessar os encontros com a minha solidão, com o meu vazio.


Assim como, por muitos meses, minha filha espelhou quem eu estava sendo, minha terapeuta também o faz. Ela me revela, sempre, quem eu sou e me lembra de quem eu já fui. E, nessas últimas semanas, eu não queria me ver, não queria ter que admitir que foram meus pés, minhas escolhas que me colocaram no lugar que estou hoje. Que passei anos vivendo a minha própria ilusão. E pior, perceber o quanto eu sou dura, rígida e até mesmo cruel com aquela minha versão mais imatura, jovem, ingênua.


Eu não quero parar a terapia. Hoje foi dia de sessão. Chorei de tristeza, quase a sessão inteira. Era tristeza. Era solidão. Era vazio. Eu tentava falar como eu me sentia, logo eu percebia o nó na garganta e as lágrimas brotarem, uma após a outra, sem pressa, apenas um gotejar contínuo, cadenciado, fluido. Como um vazar suave.


Mais uma vez, me sentei diante daquela mulher que já me viu em tantas fases diferentes e em tantas versões. Me sentei diante dela, que nunca me poupou de mim mesma, porque sabia que eu precisava, mais do que tudo, de mim mesma! Respeitou minhas decisões, mesmo quando ela sabia que não iriam durar, mesmo quando ela sabia que logo eu iria voltar frustrada, ou que eu realmente não conseguia discernir o quanto não estava pensando com clareza. Ela me acompanhou, me sustentou quando todas as minhas ilusões e todos os meus sonhos esmoreceram. Quando eu fiquei diante de mim, completamente esgotada, sentada olhando para os escombros de sonhos e fantasias que se foram, ela estava ao meu lado. Quando eu me sentia tão vazia, mas tão vazia, acreditando que era completamente invisível, ela, e minha filha, me devolvia o reflexo de que a minha existência ainda era concreta, real.


Eu não quero parar a terapia, porque a terapia me leva de volta para mim. Reconheço que, nessas últimas duas semanas, eu entrei num processo doloroso de desacreditar que as coisas, que eu, poderiam ser melhores. Eu briguei com minha história, com minhas outras versões, me envergonhei de mim mesma, me julguei, me falei coisas ruins a meu respeito, eu entrei em contato com a minha mais profunda ferida. Solidão e vazio.


E foi por isso, que eu quis interromper. Porque, olhar de frente doeu mais do que eu imaginava. E eu sei que sou forte, sei que dou conta de muita coisa, eu reconheço a minha trajetória. Mas quando meu vazio e a minha solidão finalmente encontraram espaço para aparecer tal como são, eu achei que não seria capaz de sustentar. Eu quis fugir.


Talvez por obediência, por achar que tenho que cumprir com meus compromissos, ou simplesmente por saber que seria pior sozinha, eu sentei diante minha terapeuta e falei, sem saber direito o que queria falar. Ela, como minha boa companheira, me revelou mais uma vez. Sai da sessão com pesar, mas um pouco mais inteira, menos triste. E certa de que não quero seguir pela minha solidão e pelo meu vazio sozinha, mesmo que só a veja uma vez por semana, saber que ela estará lá, me conforta. O caminho é só meu, eu sei, mas gosto de saber que tem alguém disposto a atravessar uma parte dele ao meu lado.


E assim, entendi que eu não queria parar. Eu só estava com medo de continuar.


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