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Pé de Manga

  • Foto do escritor: Karoline Pereira
    Karoline Pereira
  • 16 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Pé de Manga


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O pé de manga da casa dos meus avós


Há um tempo, venho escrevendo sobre me ocupar ou sobre o quanto eu me sinto fora de mim, da minha morada. Talvez, seja os efeitos da pandemia em mim ou foi só a oportunidade que tive de olhar sem possibilidades de me distrair. Aqui, só restou estar em casa e com isso, estar dentro, dentro de mim. Ultimamente, esse tem sido o grande tema da minha vida. Um tema que se reflete de formas muito diferentes, mas que percebo ser tudo da mesma origem. A morada.


Não é difícil ficar dentro da minha casa. Na verdade, descobri que gosto bastante do lar que construí. Claro, sinto falta de poder ir a alguns lugares, mas gosto da minha casa. Por outro lado, há dias que é insuportável. E eu comecei a buscar os elementos que tornavam os dias tão ruins e, algumas vezes, desesperadores.


Venho tentando me aquietar. Eu tendo a andar de um lado para outro criando tarefas para serem cumpridas. E as crio, elas não são necessárias naquele momento. Mas eu tenho que fazer alguma coisa, porque não posso só estar. Sempre que me percebo assim, lembro de uma sexta em que passei o dia inteiro, inteiro mesmo, sentada debaixo do pé de manga na casa da minha avó. Lembro da agonia, do tédio, mas ao mesmo tempo, do estar presente. Sentir tudo o que eu estava sentindo, sem a possibilidade de me distrair (até porque o celular não tinha uma boa recepção de sinal). As distrações eram menores. Ali, eram apenas relações: comigo mesma, com minha família, com minhas origens.


Eu sinto a força desse dia até hoje. Nos momentos em que me sinto perdida, a imagem que me aparece é o pé de manga da casa da minha avó. É as cadeiras de fio de plástico trançada que não sei o nome, que são disputadíssimas, entre eu, minha irmã, meus tios e primos. É como se fosse um puxar-me de volta para o chão. Para a terra, a terra que deu origem a minha história.


Às vezes, me pergunto como fui parar tão longe do lugar de onde vim. Não estou falando geograficamente, mas no sentir, no ser. É como se eu tivesses ido morar em um lugar outro, lugar em que eu não trouxe minhas raízes com as minhas coisas. Talvez, porque eu tenha muita dificuldade de pegar o que é meu e dar um lugar no mundo. Faço isso sem a consciência do que é. E nesse momento de estar dentro, isso foi aparecendo em mim.


Aos poucos, comecei a perceber que muito do que diz respeito as minhas origens se refletem no cozinhar. Não é uma cozinha específica, na verdade, é só a comida do dia a dia. Minhas famílias não tem muita regionalidade ou pratos típicos, especiais. Nossas influências indígenas, italianas, portuguesas e espanholas se misturaram demais e não ficou muito da regionalidade, apenas o grande gosto por comida e reunião à mesa, na qual todos falam ao mesmo tempo (herança italiana?). E isso, isso para mim é a melhor herança que eu poderia ter!


Minhas recordações estão quase todas em volta de uma mesa, comida simples, mas com fartura. A macarronada de domingo, o churrasco, a maionese, o pão que sempre sobrava, assim como o arroz que sobrava. As saladas, com o tempero que só as avós conseguem fazer. Era a comida posta a mesa e a família reunida.


De alguma forma, tudo isso está dentro de mim. Sinto toda a força quando vou cozinhar. Sinto a herança deixada, percorrendo em minhas veias. É uma família que sabe cozinhar o simples, o cotidiano. Uma família que demonstra o amor através da comida. É uma família que sabe estar com e deixar o dia passar, aproveitando o vento, a sombra a conversa despretensiosa.


Então, percebi que expresso partes do que sou e da minha história, quando ponho à mesa, quando sirvo o prato. Ou quando compro as flores. Nas coisas que faço para enfeitar e criar um lar. Os detalhes que transformam uma casa em lar. Eu não sabia de onde vinha isso, mas aquele dia, debaixo do pé de manga, me fez parar e olhar para minha história. Me trouxe para o chão, de volta para minha terra. E assim, eu posso então, construir a minha morada. Estar presente, habitando, morando em mim.


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Fachada da casa dos meus avós

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